Koe no Katachi (A voz do silencio)


        

    Sinceramente, nem sei como começar a escrever essa postagem, porque essa história é tão pesada, que exige muita responsabilidade. Talvez eu tenha cometido um erro ao ler o mangá antes de ver o filme, porque é tão resumido e, uma vez que você sabe que aquilo que passou na animação não é nada comparado aos detalhes deixados para trás, o filme acaba perdendo a força do impacto. Esse enredo balança toda a nossa estrutura emocional. Ansiedade, ira, temor, confusão, dor, empatia, medo e angústia. Somos envolvidos por todas essas emoções e dói muito. “Koe no Katachi” traz um teor muito polêmico, como o bullying, mais conhecido pelos japoneses como ijime. Já fiz uma postagem sobre esse assunto. É muito importante, então, se tiver um tempo, leia (clique aqui). Apesar do assunto principal ser realmente o bullying, ele nos faz ver muito além disso, nos induzindo a conhecer uma variedade de conflitos internos, não somente da vítima, mas também dos abusadores. Por isso, somos induzidos a olhar para dentro de nós mesmos e, com isso, avistamos as nossas falhas. No entanto, o que mais aprendi foi a respeito da compaixão e o perdão, que todos merecem uma nova chance e as pessoas podem mudar, sim, desde que queiram.


            O mangá foi lançando no Japão em 2013. Tem uma ilustração muito bonita e, como já havia dito, ele é muito mais detalhado e tem cenas realmente fortes, que nos fazem nos corroer por dentro de ira e angústia. Tem mais detalhes sobre o passado da protagonista e dos envolvimentos de cada personagem. Em 2017, a editora NewPOP trouxe-o para o Brasil. É claro que o tenho em minha coleção e é o meu tesouro. Em 2016, foi lançado o filme, com uma produção maravilhosa. Muitas pessoas que não conheciam o mangá ficaram totalmente impactados com esse enredo de fazer qualquer coração em pedaços. O nome original é “Koe no Katachi” (聲の形), que significa “A forma da voz”. No entanto, os americanos mudaram o título para “A silent voice”, que significa “Uma voz silenciosa”. Por sua vez, a editora NewPOP resolveu pôr o nome de “A Voz do silencio”. Eu achei que ficou muito bonito, mas eu prefiro o nome original mesmo.


       A história envolve um garotinho do primário que, por causa do tédio constante que sentia, estava sempre procurando algo para fazer e se divertir. Um dia, uma garota muito diferente entrou na escola. Ela era surda e se tornou sua vizinha de carteira. No começo, apenas a observava, evitando ao máximo o contato direto. No entanto, ao observar como a presença dela havia mudado o ritmo da sala, ele começou a ficar extremamente frustrado. Então, passou a intimidá-la. Dia após dia, ele e seus colegas tornavam a vida da garotinha impossível, fazendo coisas terríveis. Até que, um dia, ele acabou machucando-a fisicamente ao tirar brutalmente seu aparelho. Quando toda a responsabilidade de cometer bullying caiu em cima dele e, consequentemente, de sua mãe, seus amigos lhe viraram as costas e tudo que ele havia feito com a garota surda voltou para ele.


“Eu realmente odeio ficar entediado. O que eu queria saber era como não ficar mais entediado, mesmo assim, eu mal consigo vencer o tédio todos os dias.”
       Shoya Ishida, quando estava no primário, era um garoto extrovertido e tinha um alto espírito de liderança que atraía as pessoas, induzindo-as a andar no seu ritmo. Sua sede em decepar o tédio o levava a ir atrás das mais loucas aventuras, como até mesmo provocar uma briga, perturbar os animas ou saltar de cima de uma ponte. Porém, suas brincadeiras começaram a ficar mais sérias quando passou a intimidar Nishimiya, a garota surda. Após a bomba estourar em suas mãos, ele passou a sofrer bullying das pessoas que antes diziam ser suas amigas. Demorou para que ele pudesse reconhecer seus erros e a garota mudou de escola. Como se tivesse acorrentado pelos seus pecados do passado, isso o perseguia onde quer que fosse. O garotinho virou um rapaz que se fechou para o mundo, escolhendo ficar sozinho, sem se envolver com ninguém. Assim, Ishida se tornou um rapaz introvertido, vazio, antissocial e incapaz de encarar as pessoas. Quebrado, mergulhado em angústia e arrependimento, a única alternativa que ele encontrou para si foi o suicídio, por não aguentar mais viver assim. Essa seria sua punição final. Ele resolveu coisas pendentes em relação à sua família e, por último, resolveu encontrar a garota que ele fez sofrer, a fim de se redimir pelos seus erros, para que ele pudesse pôr fim nessa vida de agonia.


       Shouko Nishimiya é uma garota que tem problemas auditivos desde pequena. Não foi explicado se ela nasceu assim ou se foi algo que se desenvolveu quando ainda era criança, no entanto, essa doença foi vista como um fardo pelo seu pai e sua família, que acabaram abandonando ela e sua mãe. Sinceramente, só de lembrar dessa parte, que só se vê no mangá, sinto vontade de dar um soco na cara daquele homem cretino. Então, com apoio da avó materna, a mãe dela, com muita garra, a criou junto de sua irmãzinha, que na época da separação ainda estava na barriga. Criar uma criança com tal deficiência não era fácil. Não por ser um fardo, mas pelas outras pessoas não fazerem um pouquinho de esforço para aceitá-la. Então, constantemente, a mãe teve que ver a filha sofrendo bullying por onde quer que passasse. Ela se tornou uma mãe rígida para forçá-la a ser forte e superar, por mais difícil e doloroso que fosse. 


Por causa da sua deficiência auditiva, Shouko pode ser lenta para entender as coisas, mas depois de sofrer tanta intimidação, ela passou a fingir bem-estar, sempre sorrindo, mesmo quando tudo estava quebrado dentro de si. Talvez para não ser um fardo, ela tentava ao máximo ser como as crianças normais, se esforçando para participar de tudo. Mesmo não conseguindo falar direito, participava do coral, leituras em voz alta, conversas e brincadeiras com seus colegas. Ela fazia isso não por achar que era como todos, mas porque ela queria ser como todos e ser aceita pelas pessoas. No entanto, seu esforço era em vão. Seus colegas passavam a ficar cansados, frustrados e começavam a tratá-la como um fardo a ser evitado. Shouko sorria como se não entendesse nada, como se nada daquilo tivesse ferindo-a. Isso não era arrogância, mas porque ela acreditava que tudo que estava passando e todos os conflitos que envolviam as pessoas ao seu redor eram sua culpa. Ela se odiava, mas ainda assim se esforçava para seguir em frente. Ela queria amigos, queria ser aceita e amada. Faltavam-lhe sinceridade e amor próprio, mas como tê-los quando a vida lhe ensinou que você não passa de um problema? Como dizer o que pensa ou sente, se já era odiada o suficiente?  Quantas vezes ela suportou tudo em silêncio, se esforçando para sorrir para não trazer sofrimento às suas pessoas queridas?


O passado foi doloroso para ambos e era difícil viver. Cada um com sua própria cruz a ser carregada. Quem iria desistir primeiro? Nishimiya estava se esforçando, não para se amar, não para se aceitar, mas pelo menos para viver pelas poucas pessoas que ainda se importavam com sua pequena existência. Essa garota, que sorria por fora, mas sangrava por dentro, desejou de todo o coração ser amiga de Ishida, mesmo quando ele fazia as coisas mais cruéis. Não importava o que ela fizesse, o ignorante rapaz não era capaz de aceitá-la. Ela chegou a odiá-lo. Depois de seis anos, Ishida, antes de pôr fim em sua vida, resolveu que tinha que ir até Shouko e pedir perdão pelo que lhe havia feito. Mais que ninguém, ele havia sentido na pele que tipo de estrago se pode causar na vida de uma pessoa através atos irresponsáveis. No entanto, no momento em que conseguiu trocar algumas palavras com ela, através dos sinais que havia se esforçado para aprender, foi quando ele entendeu o significado do gesto que várias vezes aquela garota que ele maltratou fazia, quando tentava se comunicar com ele. Sem pedidos de desculpas, tudo que ele conseguiu dizer, sem nem mesmo entender o porquê, foi “será que ainda podemos ser amigos?”.


            Yuzuru Nishimiya é a irmãzinha de Shouko. Apesar da sua pouca idade, ela é uma garota corajosa que está ao lado da sua irmã, pronta para protegê-la seja de quem for.  Quando era pequena, ao ver sua mãe querendo cortar o cabelo da sua irmã bem curto para ela parecer um garoto e a resistência de Shouko, a própria tomou a atitude de cortar seus próprios cabelos para se parecer um garoto, sendo mais presente para poder protegê-la.  Apesar de achar que sua mãe não se importa com ela, por sempre ser dura demais e não ir atrás dela quando foge de casa, além de sua atenção estar sempre sobre a sua irmã, o que mais acho interessante é que Yuzuru não sente inveja ou ciúmes de Shouko. Geralmente, crianças que não têm a atenção dos pais por causa do irmão, tendem a ter ciúmes. Pelo contrário, ela demonstrar amar muito sua irmã e temer mais do que tudo a ruína dela. Por isso, se pudesse, a protegeria do mundo todo com suas pequenas mãos. Ela com certeza vai para a lista de irmã nota 10, ano que vem. O seu hobby é a fotografia.  Yuzuru tende a tirar fotos de coisas mortas. Aparentemente, ela gosta disso, no entanto, mais tarde, revela porquê tira esse tipo de fotografia. A garotinha, que acha não ter o afeto de sua mãe, é muito apegada a sua avó, que sempre cuidou muito dela desde pequena, sendo a sua melhor amiga. No começo da história, ela odeia Ishida pelo que ele fez a sua irmã, então fingiu ser namorado de Shouko, mas depois de observar muito as intenções dele, passou a aceitá-lo.


            Tomohiro Nagatsuka é um estudante do ensino médio que está sempre sozinho. Provavelmente por causa da sua aparência e jeito, passou a ser rejeitado pelos colegas. No entanto, Nagatsuka não se deixa se abater com isso, tendo confiança em si mesmo, apesar de dizer algumas mentirinhas para rebater as críticas alheias. Um dia, quando um cara tentava levar sua bicicleta, acabou sendo salvo pelo Ishida. A partir dali, uma amizade começou. Depois de muito tempo sem se relacionar com ninguém, Ishida passou a confiar muito em Nagatsuka, sendo seu primeiro amigo depois do ocorrido no primário.  Mesmo que Nagatsuka não conhecesse o suficiente o seu novo amigo, ele confiava naquele cara que ele havia conhecido e passou a protegê-lo com a alma, mantendo os falsos amigos longe e ajudando-o a se aproximar da Shouko.


Naoka Ueno era a menina mais próxima de Ishida no primário. Foi a primeira a negar sua participação no bullying e testemunhar as ações maldosas do garoto. No entanto, ela está longe de ser inocente, já que ela foi a primeira a ficar frustrada com a independência de Nishimiya e passar a excluí-la, juntamente das demais meninas. Ela também começou o bullying contra Sahara, por ele demonstrar interesse em ajudar Nishimiya. Foi a primeira a apoiar as brincadeiras maldosas de Ishida. Naoka é uma garota bonita e popular. É extremamente sincera, ao ponto de ser rude e insensível. Além disso, pode ser muito explosiva, ao ponto de recorrer à violência. Mesmo depois de seis anos, ela nunca reconheceu seus erros do passado e ainda acredita que a culpa de fazer o caos e separar os amigos no primário foi da Nishimiya. Ela a odeia. Ueno acusa a Shouko de usar a sua deficiência para ser vítima e digna de pena, mas isso é o que ela quer acreditar para usar como justificativa para odiar a garota, que nunca fez nada de mal a ela. É claro que ela não é obrigada a gostar de quem não gosta, mas não precisa usar a garota como bode expiatório para isso. Ela não precisa gostar, mas deveria ter respeitado-a, desde o princípio. A Shouko não estragou a amizade de ninguém, afinal, o que ela queria mesmo era ser amiga deles.  O que estragou a amizade deles foi a covardia e a fraca cumplicidade que eles tinham. Talvez, por um momento de medo, não se comprometer, tudo bem. Mas o que eles fizeram depois? Cadê esta amizade que eles tinham, quando começaram a intimidar Ishida e fazer a vida dele um inferno? Culpar os outros pelos nossos erros é algo que faz parte dos seres humanos, isso é um fato. Porém, a culpa de tudo dar errado não foi da garota com problemas de audição, que estava querendo ser aceita, mas das escolhas que eles fizeram. Então, sim, eu odeio pessoas que culpam os outros pelos seus próprios erros. Ela desistiu da amizade dela, ninguém a obrigou a isso. Se alguém estragou o que eles tinham, foram eles mesmo. Naoka é apaixonada por Ishida desde o primário, mas ele nunca correspondeu, ou melhor, nem sequer percebeu. Ainda hoje, seus sentimentos não mudaram, o que a faz ter mais raiva ainda de Nishimiya, que roubou a atenção e devoção de seu crush.


Miyoko Sahara é colega do primário de Nishimiya, Ishida, Naoka e Kawai. No primário, era uma garota tímida, na dela, e sempre mostrou curiosidade para aprender língua de sinais, a fim de ajudar a adaptação de Nishimiya na sala de aula. No entanto, essa aproximação a fez virar alvo de bullying das meninas, que ficaram intrigadas por ela ela querer ajudar uma garota que elas estavam querendo excluir. Não suportando os ataques, a garota desistiu de ir à escola, sendo transferida, sem nem dizer adeus. Depois de seis anos, a garota acaba mudando bastante, criando um pouco mais de autoconfiança, por causa de sua estatura, com a qual poderia se tornar uma modelo. Ela até acabou virando amiga de Naoka, que no passado a intimidou, por causa de seus interesses pela moda. Sahara é uma garota muito gentil. Quando Ishida foi atrás dela para que pudesse reencontrar a Nishimiya, passou a ficar muito próxima da garota, virando, finalmente, amigas de verdade.


            Miki Kawai estudou no primário com os demais personagens. Ela era líder da sala, o que a fazia responsável. Miki é muito bonita e sabe disso, embora esconda sua beleza atrás de seus óculos e suas tranças. Apesar de seu jeito gentil, educada e simpática, uma vez que se sente ameaçada, pode mostrar um lado bem diferente, usando seu lado meigo para se vitimizar e se fazer de inocente, não hesitando em  entregar de bandeja quem quer que for. Miki é o tipo que diz “não faça isso, isso é errado” enquanto ela mesma está colocando a mão na massa ou rindo pelas costas da pessoa intimidada. Embora não reconheça, ela foi uma das pessoas que intimidaram Nishimiya e também entregou o Ishida na hora H.  Depois de seis anos, ela não mudou. Continua acreditando que só faz o bem às pessoas, não reconhecendo que também errou. Ela é apaixonada por Satoshi e vive se fazendo de frágil e santa na presença dele.


            Satoshi Mashiba é um colega de sala de Ishida e Nagatsuka. No começo, ele sempre aparecia com um X na cara, o que representava que era alguém que Ishida não fazia questão de conhecer. No entanto, o rapaz estava muito interessado em ser amigo de Ishida e aos poucos conseguiu sua brecha. Satoshi é um rapaz bonito, gentil e odeia injustiça.  Ele foi vítima de bullying, por isso odeia pessoas que o cometem. Até o momento, ele não fazia ideia do passado de seu amigo. Será que ele é capaz de acreditar que as pessoas podem mudar? Apesar de sua feição gentil e bondosa, a verdade é que a mágoa deixada dos tempos em que sofria bullying não foi apagada. Existe muita escuridão no coração dele. Ao conviver com Ishida, ele foi capaz de reconhecer que não era certo desejar a ruína, nem mesmo daqueles que um dia o maltrataram.
            Os melhores amigos do primário de Ishida apareceram de relance algumas vezes, após os seis anos. Pareciam arrependidos dos erros do passado, mas Ishida não estava pronto para encará-los ainda. A mãe de Ishida e Shouko mostraram ser mulheres de garra, então já sabemos quem vai aparecer ano que vem no “Especial dia das mães”.
            Espero que vocês tenham sentido um pouco do impacto que é esse enredo maravilhoso. Aconselho a ver o filme primeiro e, com toda certeza, em seguida, ler o mangá, porque lá tem coisas que vocês não verão no filme, inclusive um final além do final que vemos na animação. Então, sim, INDICADÍSSIMO!!!!


Gênero:     Drama, Romance, Slice of life

Autor: Yoshitoki Oima
Mangá:  7 Volume  
Filme:    1

2 comentários:

  1. Nhaaa eu amo esse filme!! Chorei horrores ;-; também fiz resenha dele no meu blog eu achei simplesmente emocionante um filme que abordou temas super delicados de uma maneira incrível <3

    Apenas eu, Day

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  2. Ótimo post! Quando escrevo um post não costumo falar muito das personagens individualmente, falo mais na história em termos gerais. Mas quando leio os seus posts fico com vontade de fazer o mesmo.
    Eu também adoro este filme! É o meu anime favorito e também fiz um artigo de opinião sobre ele. Achei o filme incrível, mas não li o mangá... Gostava de ler e talvez o leia no futuro. A história é tão simples e ao mesmo tempo tão marcante, a empatia que sentimos pela Shouko é mágica e o Ishida é um personagem incrivelmente bem desenvolvido. Recomendo!
    Mundo da Fantasia

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